sexta-feira, 13 de abril de 2012

Os Últimos Dias de Michael Jackson


O corpo de Michael Jackson está sobre uma maca no necrotério, no centro de Los Angeles. Ele está vestido com calça preta brilhante, um avental hospitalar fino e nada mais. Os pés estão descalços e o braço esquerdo cheio de marcas de agulha. O tórax pálido e estreito está coberto de hematomas - evidências de esforços médicos nas últimas horas para salvar sua vida. Médicos e seguranças entram e saem da pequena sala onde está a maca, ansiosos por dar uma espiada no corpo de Jackson. Tudo havia começado na manhã daquela quinta-feira, quando o médico que morava com o cantor havia tentado freneticamente reanimá-lo. Quando os paramédicos chegaram, respondendo a uma ligação desesperada para o serviço de emergência 911 às 12h21, queriam pronunciar sua morte no ato.
Mas Michael Jackson não poderia estar morto. Seu corpo foi carregado para uma ambulância e levado ao UCLA Medical Center, onde uma equipe de médicos trabalhou por mais de uma hora, aplicando um desfibrilador no peito de Jackson, todos esperando que pudessem evitar que um dos maiores artistas da música terminasse naquele necrotério. O rosto de Jackson, que ele reconstruiu tão dolorosamente e escondeu do público por décadas, agora está à mostra, sem disfarce, sob as luzes fortes do necrotério. A prótese que normalmente acoplava a seu nariz danificado não estava ali, o que revelava pedaços de cartilagem cercando um pequeno buraco escuro. Mas, para quem passava pela sala, Michael finalmente estava descansando. "Vendo-o deitado ali", lembra uma testemunha, "ele parecia estar em paz".
Ainda era um dia antes da autópsia, quando patologistas o abririam para tentar entender por que um homem magro de 50 anos - que havia dançado por horas na noite anterior - morreu tão repentinamente. No entanto, enquanto Jackson estava no necrotério na tarde de 25 de junho, detetives já haviam entrado na mansão alugada pelo cantor em Bel-Air, recolhendo uma quantidade enorme de medicamentos que ele mantinha à mão. Mais assustadores eram os diversos relatos de que os dois sacos grandes de remédios que os investigadores levaram continham frascos de Diprivan, um anestésico potente utilizado em pacientes antes de cirurgias com anestesia geral. Diz-se que Jackson usava o Diprivan há anos para conseguir dormir, e a polícia de L os Angeles logo começou a investigar se sua morte deveria ser considerada um homicídio, deixando claro que queria questionar o médico do cantor, Conrad Murray. Murray havia exigido US$ 1 milhão por mês para trabalhar para Jackson - e desapareceu depois que seu cliente foi pronunciado morto na sala de emergência do UCLA.
Horas depois da morte de Michael, LaToya Jackson supostamente foi à casa do irmão, procurando ansiosamente por malas de dinheiro que sabia que ele mantinha ali e, em questão de dias, a mãe deles foi aos tribunais para lutar pelo controle do patrimônio de Jackson e pela custódia de seus três filhos. As crianças haviam seguido Jackson até o hospital em um Escalade azul e quem lhes contou que seu pai havia morrido foi o empresário de Michael, Frank DiLeo, que quase desmaiou quando uma enfermeira lhe deu a notícia. Este era o Michael Jackson que o mundo conhecia e ridicularizava: a família maluca, as plásticas malfeitas, os dois divórcios, as acusações de abuso contra menores, os problemas financeiros que o    deixaram com uma dívida estimada em US$ 500 milhões.                                                                                     
Mas Michael tinha uma opinião diferente. Em seus últimos dias, não apenas sonhava comum retorno, mas também trabalhou o máximo que conseguia para realizar isso, talvez tanto quanto sempre fizera. Compôs novas músicas, ensaiou por horas a fio para aperfeiçoar os shows que pagariam suas dívidas e marcariam seu retorno ao topo do panteão e planejou cada detalhe de sua turnê de retorno - um espetáculo imenso que já havia custado pelo menos US$ 25 milhões só em pré-produção, Jackson deu à sua turnê um nome que já dizia tudo: This Is It. Jackson sabia o que as pessoas pensavam dele e as faria mudar de percepção, como havia feito várias vezes. Nos últimos meses de sua vida, Jackson não pensava em nada além da turnê, e as pessoas que amava e em quem confiava tinham certeza de que este era o momento pelo qual esperava.
Na noite antes de sua morte, Jackson passou por seis horas de prova de roupas para seu show no Staples Center, em Los Angeles. Mais de uma dezena de pessoas presenciou o ensaio final - de seu promotor ao coreógrafo e músicos - e todos concordam com uma coisa: Jackson estava melhor do que nunca. Ele era puro pop, da mesma forma que em seus dias de glória, cantando e dançando melhor que os jovens profissionais que o cercavam. "Ele era tão brilhante no palco", lembra o diretor da turnê, Kenny Ortega. "Eu ficava arrepiado." Ken Ehrlich, que produziu os prêmios Grammy por três décadas, estava sentado na plateia, embasbacado. "Falei para alguém: 'Isso é impressionante!' Por muitos anos vi Chris Brown, Justin Timberlake, Backstreet Boys e o En Vogue imitarem o Michael Jackson - e ali estávamos nós, muitos anos depois, e ele estava para voltar. Literalmente me deu arrepios, os pelos na nuca levantaram. Você espera por momentos como aquele." This Is It deveria ter sido o maior retorno de todos os tempos. "Frank", falou Jackson a seu empresário, "temos que fazer o maior show da Terra". A tragédia é que ele quase conseguiu.
Em sua última noite, Jackson chegou ao Staples Center para seis horas de ensaio ininterrupto. Primeiro, teve uma reunião com Phillips, Tim Leiweke, presidente da AEG, seu empresário DiLeo e Ken Ehrlich, produtor do Grammy. Eles lançaram ideias para um especial de Halloween que estavam preparando: a estreia em rede de Ghosts, o curta-metragem de Jackson, que incorporaria clipes de uma apresentação ao vivo de "Thriller" em Londres. Depois, Jackson foi para outra sala e passou cerca de uma hora revisando os efeitos
3D para o show. Jantou - peito de frango e brócolis -, foi para seu camarim e, então, saiu para três horas de apresentação. O encerramento foi definido como "Earth Song", de HIStory, uma das músicas preferidas de Jackson. Uma balada comovente sobre o estado do mundo que terminava com um refrão repetido que perguntava sobre as vítimas do desenvolvimento desenfreado da humanidade, do canto de baleias a florestas devastadas. "What about death again? (e quanto à morte?)", cantava Jackson na conclusão da balada "Do we give a damn? (damos a mínima?)" Quem presenciou a apresentação - profissionais experientes que já haviam trabalhado com os melhores da indústria - ficou maravilhado. Diante deles estava o Michael que todos lembravam, o artista que havia crescido de um cantor infantil para formar um estilo completamente novo de pop. Quando Jackson saiu do palco, abraçou DiLeo. "Esta é nossa vez novamente", disse ao empresário. "É nossa vez de reassumir." O ensaio acabou, mas ninguém queria sair e acabar com aquela magia que estava no ar. "Ele estava resplandecente", lembra Ortega. "Quando acabou, todos ficamos ali, de bobeira." Michael estava pronto. Em apenas 19 dias, subiria ao palco em Londres e o mundo saberia, mais uma vez, que o Rei do Pop estava de volta. Finalmente, enquanto os artistas começavam a ir embora, Phillips acompanhou Jackson até seu carro e Michael abraçou o promotor. "Obrigado por me fazer chegar até aqui", disse a Phillips em voz baixa. "Consigo assumir a partir daqui. Sei que posso fazer isso."

                                                                                                                                 Divulgação : Rollingstone

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